sábado, 16 de fevereiro de 2013






Sabedoria Celta

Que sejas abençoado nos Nomes Sagrados daqueles que suportam a nossa dor pela montanha da transfiguração acima.
Que conheças o suave abrigo e a graça restauradora quando fores chamado a resistir na morada da dor.Que os pontos de escuridão no teu íntimo se voltem na direção da luz.
Que te seja concedida a sabedoria de evitar a falsa resistência e, quando o sofrimento bater à porta da tua vida, sejas capaz de lhe vislumbrar a dádiva oculta.
Que sejas capaz de enxergar os frutos do sofrimento.
Que a memória te abençoe e te abrigue com a arduamente obtida luz do esforço passado, que isso te dê confiança e segurança.
Que uma janela de luz sempre te surpreenda.
Que a graça da transfiguração te cure as feridas.
Que saibas que, embora a tempestade possa rugir, nem um fio do teu cabelo será magoado.
Que saibas que a ausência está repleta de terna presença e que nada jamais está perdido ou esquecido.
Que as ausências na tua vida estejam repletas de eco eterno.
Que sintas ao redor do secreto “Outro Lugar” que contém as presenças que deixaram a tua vida.
Que sejas forte na aceitação das tuas perdas.
Que a dolorosa fonte de luto se transforme em uma fonte de ininterrupta presença.
Que a tua paixão se estenda àqueles de que nunca temos notícia e que tenhas a coragem de falar em nome de excluídos.
Que venhas a ser o afável e apaixonado sujeito da tua vida.
Que não desrespeites o teu mistério por meio de palavras insensíveis ou integração falsa.Que sejas acolhido por Deus, em quem o amanhecer e o crepúsculo se unem, e que a tua integração habite os seus sonhos mais profundos no interior do abrigo da Grande Integração.

(Textos extraídos do livro “Ecos Eternos” de John O’Donohue; Editora Rocco). —

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-dos-celtas/historia-dos-celtas-5.php

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Mário Quintana - A criação da xoxota

Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:

Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro.

Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.

Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.

Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.

Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor.

Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”

Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…
Buceta



Gustave Courbet “A origem do mundo”
mas bem que poderia ter sido Picasso

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

                              VERMELHO


                                                 Entre manhas e manhãs 
                                                           entre ciclos contínuos
                                                    da cor de escarlate
                                                                  Que vão e vem
                                                     Num despertar 
                                                               intenso
                                                       sereno 
                                                                 úmido
                                                 Madrugadas a fio
                                                        sem frio
                                                      Só calor
                                                                   rubor
                                                           amor
                                             fogo que queima a erva
                                                       das entranhas da terra
                                                 Que queima o tempo
                                                      o instante
                                                  e gela a ânsia 
                                                            O desagrado.
                                                                Agrada a alma
                                                        acalma a calma
                                                 Quase para o instante, 
                                                           quase cala a fala
                                                                       o falo
                                            pra retornar ao ciclo escarlate
                                                  num pulsar delirante
                                                             num instante 

Para o meu amado........ 
com o qual eu tenho noites deliciosas e inesquecíveis.

domingo, 26 de agosto de 2012





Pro dia nascer feliz
e a paixão se enamorar







         Bênção Druida


Que o caminho seja brando a teus pés,
O vento sopre leve em teus ombros.
Que o sol brilhe cálido sobre tua face,
As chuvas caiam serenas em teus campos.
E até que eu de novo te veja,
que os Deuses te guardem nas palmas de Suas mãos
 Que a estrada abra à tua frente,
que o vento sopre levemente em tuas costas,
que o sol brilhe morno em e suave em tua face,
que a chuva caia de mansinho em teus campos.
E até que nos encontremos de novo...
Que os Deuses te guardem  nas palmas de Suas mãos.
Que as gotas da chuva molhem suavemente o teu rosto,
que o vento suave refresque teu espírito,
que o sol ilumine teu coração,
que as tarefas do dia não sejam um peso nos teus ombros,
e que os Deuses te envolvam num manto de amor


domingo, 19 de agosto de 2012

Encântico

ENCÂNTICO 
(Marina Colasanti)

"Estou de partida. Breve, me mudarei para a curva do teu braço. 

Busco a terra sem vento, a mansa terra do teu peito. E a batida surda e quente do magma mais profundo, para embalar o meu sono. Busco a tranqüilidade da enseada. Já conheci as águas que é preciso saber. Fui bem além das colunas de Hércules e há muito descobri que por mais longe o mar, jamais despenca. Sereia, lancei meu canto por entre espumas, encantei marinheiros. E eu própria naveguei, seguindo as estrelas do céu, contando as estrelas do mar, até chegar a portos dos quais nem suspeitava a existência.

Agora é tempo de lançar as tranças na água e deixar que se enlacem nos rochedos, ancorando-me ao meu destino. Escolho o teu lado esquerdo, onde me beija o sol poente. E espero que a tua mão direita amaine as minhas selas. Assim, acima do teu coração, encosto a cabeça. E pequena como um grão, deito raízes. Aprenderei a conhecer-te através da planta dos meus pés, como o cego sabe onde pisa, como o índio conhece a trilha? Se for mansa, a maré das colinas, terei certeza de que dormes, ou pensas em silêncio. Se, de repente, meu solo se encrespar, tangido por um vento só teu, será o frio que te toca. O medo, saberei no tremor subterrâneo. E quando o suor correr farto, enchendo rios sem peixes, ameaçando me levar, será tempo de calor, será o verão cantando na tua pele.
Aprenderei a tatear-te com as mãos, a procurar meus caminhos nos valões dos músculos. Fluirei devagar, dormirei nas axilas. Não preciso de casa. Não preciso de abrigo. A terra da tua carne é quente e nada me ameaça. Posso deitar-me nua, dormir tranqüila, ou ficar acordada, olhando para o alto. O céu é calmo, as nuvens passam, indo a outros lugares. Nenhuma traz a chuva, ou a tempestade. Não preciso de pente, não preciso de panos. O orvalho da tua pele me banha de manhã e a tua respiração arruma os meus cabelos. Só quero um cavalo. Galoparei com ele as dunas do teu corpo, descerei pelos braços, avançarei pelas mãos, arriscando-me à queda nos penhascos dos dedos. Explorarei o teu ventre, matarei a minha sede no poço do teu umbigo. E, armada de desejo, penetrarei na selva dos teus pelos, emaranhada e perfumada noite, delta dos sumos, labirinto que imperioso, me chama e suave, me perde. Só depois, percorridas as pernas, visitados os pés, voltarei corpo acima, ventre, peito, subindo em peregrinação até o pescoço, repousando no vale da omoplata.

Talvez leve um cantil para a dura escalada do teu queixo. Subirei com cuidado, usando como apoio os fios de barba, procurando a caverna das orelhas para repouso e abrigo. Barulho não farei, prometo. Nada que te perturbe. Talvez no dia seguinte, ou mais ainda, passando-se outro dia na difícil subida, eu procure chegar até teus olhos. Se estiverem fechados, sentarei com paciência, esperando o milagre da íris descoberta nascer do olho que se renova a cada despertar, astro de luz, surgindo sob o horizonte da pálpebra. Se estiverem abertos, sentarei à beira deste lago, fonte, olho d'água, encantada com a dança dos reflexos, ilusórios peixes, deslizando suas sombras sob um fundo sem algas. E haverá um momento em que, vencendo o medo, mergulharei na transparência, para nadar em direção ao redemoinho negro da pupila. A aresta do nariz é perigosa. Eu bem conheço a sua linha sinuosa, sua falsa maciez sobre o duro arcabouço. Não convém que a acompanhe. Seguirei pelo lado, encostando-me às arestas, esgueirando-me para não ser tragada. Não tentarei desvendar o mistério do sopro. À boca, chegarei com respeito. Virei pelo canto, descendo ao lábio inferior, o mais carnudo. Avançarei deitada, rastejando-me de leve na pele úmida, até chegar à borda. E me debruçarei sobre as palavras. Breve me mudo para a curva do teu braço. Não saberei mais de você do que já sei. Nem você saberá mais de mim. Mas talvez assim perto, encostada na raiz do teu ser, eu possa me esquecer de onde começo e me esquecer em ti na minha entrega."


domingo, 29 de julho de 2012

Não encontrei o mar revolto em Pessoa, mas vi em Hilda Hilst seu jeito destemido de ser tão obscena e obcecada. Não fui moça casadoira como Adélia Prado, eu me inseri na babilônia da lascívia de Anais Nin, entre a loucura, a delícia e a razão fantasiada. Eu quis salvar a vida de Ana C. que virou passarinho em Manoel de Barros. Estive com Clarice, Caio e Mia Couto, mas quis que Guimarães me amasse qual neblina Diadorim: faltou meu Riobaldo, um rio nosso, terra seca e a boca molhada de neologismos pra mulher amada.
(Fui quase injusta em desejar que as coisas tivessem sempre um real tamanho, que as fomes fossem saciadas sempre pelo melhor gosto, que a chuva só desabasse em tempos de matar a sede.) Tranquei meus dias ruins nas cores de um Miró aceso. Fui tão constrangedora não sendo infeliz como escritora, preferindo de qualquer maneira a incerteza da existência da verdade inteira. Se quase sucumbi num poço de tristeza, me reergo até hoje, constante e amiúde, fazendo o meu melhor_ fiz o maior que pude. Mas não me preservei: ainda sou lanhada pelos galhos de matas fechadas que são o meu altar, minha estrada.
Engulo o amargo da saudade sem fazer careta, absorvo o azedo da rejeição sem me achar menor, abro os braços para a escuridão contando estrelas, gasto cada gota de suor e sangue nas minhas entregas. E não economizo gargalhadas, mas pago o preço alto do inconveniente de viver no mundo paralelo e metafísico onde vivem as palavras.
Estive em muitas páginas. Grifei muitos parágrafos. Sorvi tantas inglórias e orgasmos e vitórias.
E estive com você além de mim. Fui burra, mas foi bom. Fui pura, mas fui tola. E toda a malícia vinda na hora inadequada me fez desconfiada por tudo, por nada.
Eu tenho um jeito enorme de amar pra sempre, mas sou desajeitada.
Eu tenho um jeito imenso de ser comovente, mas sempre concluo as histórias na hora errada.

Marla de Queiroz